P- É permitido aos muçulmanos fazerem compras e vendas no “Black Friday”? É correto chamar Sexta-Feira de “Black Friday”?

dez 11, 2020 | Comércio

Em nome de Allah, o Compassivo, o Misericordioso

P- É permitido aos muçulmanos fazerem compras e vendas no “Black Friday”? É correto chamar Sexta-Feira de “Black Friday”?

R- Sim, os muçulmanos podem comprar e vender no “Black Friday” (em português, “Sexta-Feira negra”), pois o conceito de Black Friday é puramente um conceito de “Marketing”, não havendo nenhuma ligação com qualquer religião ou alguma prática religiosa. Por conseguinte, é permitido aos muçulmanos promoverem os seus produtos, assim como podem beneficiarem-se das promoções deste dia. No entanto, os muçulmanos devem ter em mente que ao aproveitar das promoções do Black Friday”, as compras devem ser de acordo com a necessidade de cada um, evitando no máximo o desperdício de tempo e compra impulsiva de bens desnecessários.

Na realidade, o termo “Black Friday” é usado numa Sexta-Feira específica do ano, no mês de Novembro, para as compras de preparação do Natal. Nesse dia, nos países de influência ocidental, são anunciados grandes descontos e promoções nos produtos que até podem chegar aos 50% dos preços praticados em dias normais, tudo isso como forma de proporcionar ao público consumidor a oportunidade de festejar o Natal com a sua família da melhor forma. Os comerciantes, por sua vez, põem o seu lucro mínimo e muito mais baixo do que o previsto.

Este episódio de “promoção” deve ser uma lição para todos os muçulmanos que apesar do Isslám ter estabelecido o princípio de “Ukhuwwah” (Irmandade), os muçulmanos estão bem longe desta conduta. O princípio de Irmandade (Ukhuwah) foi ordenado por Allah سبحانه وتعالى , estabelecido pelo seu Mensageiro صلى الله عليه وسلم e encontrado nos companheiros do Mensageiro de Allah رضي الله عنهم.

Allah سبحانه وتعالى diz:
“Certmente, os crentes são irmãos uns dos outros; reconciliai, pois, os vossos irmãos,e temei a Allah para vos mostrar a misericórdia”. (Surah Al-Hujuraat 49:10).

Sayyiduná Abu Hurairah رضي الله عنه narra que o Mensageiro de Allah صلى الله عليه وسلم disse:

“Ó servos de Allah! Sede como irmãos! Um muçulmano é irmão do outro muçulmano, não é injusto contra ele, não o menospreza, nem o humilha.”(Musslim)

Esta iniciativa de facilitar aos outros nas épocas festivas, deveria ser uma iniciativa dos muçulmanos com o slogan “Sexta-Feira abençoada” ou “Sexta-Feira especial”, porém, infelizmente, a nossa situação é bem diferente, pois, quando chega o abençoado mês de Ramadhán, cuja santidade e sublimidade foi declarada por Allah سبحانه وتعالى e não pelas pessoas, os preços dos produtos que são consumidos nesse mês sobem para o dobro ou triplo. De seguida vem a festa do ‘Idul Fitr, em que os preços, tanto das roupas como dos produtos alimentares também sobem de forma exagerada, ao ponto de ficar fora do alcance dos pobres, impedindo-os de comprar roupa para si e para os seus filhos. Depois de alguns meses, quando chega a festa do ‘Idul Adhá, em que o animal normalmente (antes do Qurbán), era vendido a um preço, aumenta duas ou três vezes. Quando chega a época do Hajj, que é um desejo existente em milhões de corações de crentes, a maior parte das agências de viagem elevam os seus preços, muito acima da capacidade de muitos muçulmanos, daí que muitos de entre eles não consigam realizar o Hajj, morrendo sem conseguir realizar tal sonho. Portanto, é notável que esse princípio de irmandade é praticamente inexistente em nossas comunidades, pois, desejar o bem do outro, dar facilidade aos outros, alimentar os necessitados, velar pelos órfãos, ajudar as viúvas, olhar pelo vizinho, visitar os familiares, facilitar aos devedores, etc., são obras quase inexistentes nas comunidades muçulmanas.

ORIGEM DA EXPRESSÃO BLACK FRIDAY – “SEXTA-FEIRA NEGRA”
Não existe ofensa nenhuma em denominar o dia de Jumu’ah de “Sexta-Feira negra”, pois, este título não é uma humilhação aos muçulmanos, nem ao dia de Jumu’ah. A expressão de “Black Friday” provém de um acontecimento externo, isto é, uma expressão que não tem nenhum relacionamento com o dia de Jumu’ah, ao contrário, é um acontecimento que ocorreu numa Sexta- Feira. O adjetivo “negro” não é um insulto ao dia de Jumu’ah, este adjetivo foi usado durante muitos séculos para retratar diversos tipos de calamidades, afirma o linguista Benjamim Zimmer, editor-executivo do site vocabular.com.

Nos Estados Unidos, a primeira vez que o termo foi usado foi no dia 24 de Setembro de 1869, fazendo referência a “crises na bolsa”, quando dois especuladores, Jay Gould e James Fisk, tentaram tomar o mercado de ouro na bolsa de Nova York.
Quando o governo foi obrigado a intervir para corrigir a distorção, elevando a oferta da matéria-prima ao mercado, os preços caíram e muitos investidores perderam grandes fortunas. Portanto, a atribuição deste adjetivo “Negro” é por um fator externo (crises na bolsa), sem qualquer menosprezo ao nosso dia de Jumu’ah, e isto pode ser relativo, pois o que pode ser um dia mau para alguns, pode muito bem ser um dia bom para outros.

No Qur’án, Allah سبحانه وتعالى quando enviou castigo ao povo de Sayyiduná Hud عليه السلام, Allah سبحانه وتعالى chamou aos dias de semana, incluindo o dia de Jumu’ah, de “Nefastos”. Nefasto é um adjetivo masculino que significa algo de mau agouro, que provoca desgraça ou referente à um período de luto e tristeza.

Allah سبحانه وتعالى diz:
“Então, enviámos contra eles um vento furioso, em dias nefastos, para fazê-los provar o castigo da humilhação na vida mundana. Mas na realidade, o castigo do Além é mais humilhante; e eles não serão socorridos!”. (Surah Fussilat 41:16).


O termo “dias nefastos ou dias de desgraça” usado no Qur’án, não significa que os dias por si mesmo são nefastos, ou seja, os dias tornaram-se nefastos por uma circunstância externa, que era o castigo de Allah سبحانه وتعالى para todos aqueles que não aceitaram a mensagem de Sayyiduná Hud عليه السلام, mas do outro lado, para Sayyiduná Hud عليه السلام e todos aqueles que aceitaram a sua mensagem, os mesmos dias eram de bênção e de alegria. Portanto, para os não muçulmanos é uma Sexta-Feira negra e para nós ainda continua sendo uma Sexta-Feira abençoada mesmo que a intitulamos de Sexta-Feira negra, pois o que Allah سبحانه وتعالى decretou como abençoado, será sempre abençoado. Cada um com seus motivos e suas circunstâncias.

Nós, muçulmanos, não temos nada a ver com essa expressão, independentemente, dos não muçulmanos designarem uma específica Sexta-Feira de Sexta-Feira negra, Sexta-Feira vermelha, Sexta-Feira amarela ou qualquer outra coisa. Aliás, existem outros termos semelhantes, como a “Cyber Monday” ou Segunda-Feira cibernética, em português, onde lojas online fazem vários descontos. É uma estratégia para beneficiar o e-commerce (comércio eletrónico). Além disso, existe também o “Gray Thursday”, que significa Quinta-Feira Cinza. Nesse dia, que é o próprio dia de Acão de Graças, muitas lojas estão abertas e vendem produtos com grandes descontos.

Em resumo, o designarem “BLACK FRIDAY” não é ofensivo, nem vergonhoso para os muçulmanos, o que é realmente ofensivo e vergonhoso é a atitude dos comerciantes muçulmanos que aumentam os preços dos Produtos quando da aproximação dos dias festivos Isslámicos. Nós é que tornamos todas as ocasiões religiosas em “BLACK DREAM” (sonho negro) para os muçulmanos, e depois queremos condenar os que designam uma Sexta-Feira específica, por BLACK FRIDAY (sexta-feira negra). Allah سبحانه وتعالى não nos irá perguntar por que razão não reagimos quando os outros falavam de BLACK FRIDAY, mas sim perguntar-nos-á por que razão não ajudamos os pobres, os órfãos, as viúvas… em ocasiões e nos dias que Ele سبحانه وتعالى tornou sagrados.

هذا ما تبين لى والله أعلم بالصواب

Mufti Ismail Abdullah Ismail
Daarul Iftá- Beira
15 de Rabi’ul Awwal de 1440
23 de Novembro de 2018


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